Enquanto eu leio em México, quantas horas
são em Moscou? Já é tarde, sempre é tarde,
sempre na história é noite e é fora de hora.
Solyenitzin escreve, o papel arde
sua escrita avança, cruel aurora
sobre planaltos cheios de ossos.
Fui covarde,
não vi de frente o mal...
O mal? um par
de olhos sem face, um repleto vazio.
O mal: um alguém ninguém, um algo nada.
Stalin teve face? A suspeita
lhe comeu a face e alma e alvedrio.
Povoou o medo sua noite desalmada,
seu insônio deixo Rússia despovoada.
*
Alma não teve Stalin: teve história.
Desabitado Marechal sem face,
servidor do nada. Se disfarça
o mal: a larva é César já. Vitória
de um fantasma: designa sua memória
seu vazio. O nada é grande avarento
dos ninguém. E os outros? Se desvela
o mal: o mesmo irreal combinatório
baralho para todos. Circular a pena,
a culpa circular: desenrolando
o carretel, a história os despena.
Discurso é uma faca congelada:
Dialética, sangrento solipsismo
que inventou o inimigo de si mesmo.
Cidade do México, 1988.
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