Toda a vida de Gilbert Keith Chesterton, um dos maiores e mais lidos apologistas cristãos do século XX, pode ser compreendida como a viagem de um homem que sai de um e volta ao mesmo lugar. Como o personagem do conto por ele redigido,
Homesick at home, que percorre todo o mundo tentando voltar para casa, ponto de partida da viagem, foi preciso que Chesterton vivesse longos anos de inquietações espirituais para finalmente encontrar a verdade da fé católica.
Eis o resumo da aventura espiritual de Chesterton: durante todo o tempo, ao longo dos anos de sua vida, ele estava em casa, mas não se reconhecia em casa. As coisas estavam lá, o tempo todo, diante de seus olhos, mas ele não as via. A filosofia em que Chesterton sempre acreditou era aquela que aprendeu quando criança: a dos contos de fadas, o reino luminoso do senso comum. Encontrou no cristianismo, e só nele, a correspondência a essa filosofia e as respostas para os dilemas e paradoxos da vida.
Nasceu Gilbert Keith Chesterton em Kensington, distrito central de Londres, em 29 de maio de 1874, filho de Edward Chesterton e Marie Louise Keith. A primeira filha do casal, Beatrice, morreu aos 8 anos de idade. Gilbert teve como único irmão Cecil, com quem se dava muito bem.
Embora batizado e formado segundo a tradição anglicana, desde muito cedo o garoto demonstrou admiração pelo católico, particularmente pela pessoa da Virgem Maria, conforme confessou mais tarde: “Mal consigo recordar um tempo em que a imagem de Nossa Senhora não se erga muito concretamente no meu espírito [...]. Quando recordava a Igreja Católica, recordava-a a Ela; quando tentava esquecer a Igreja Católica, tentava esquecê-la a Ela”.
A infância de Chesterton foi marcada pela alegria genuína do meio familiar: a casa sempre cheia de primos e amigos, povoada de iluminuras medievais, estampas antigas, fadas, gnomos e duendes do teatro de marionetes com que seu pai divertia as crianças.
Chesterton estudou no Saint Paul’s College, onde viveu uma realidade amarga, duramente contrastante com a alegria do lar. Eis, segundo suas próprias palavras, um resumo da sua juventude: “Eu era um pagão à idade de 12 anos, e um completo agnóstico aos dezesseis... Eu nunca li uma linha da apologética cristã.” Foi inclusive atormentado na adolescência por pensamentos de suicídio.
Não freqüentou a Faculdade, como a maioria de seus amigos, mas a Escola de Artes, que não chegou a terminar. Estreou na imprensa como crítico de arte, mas logo teve seus horizontes jornalísticos ampliados por outros temas. Prolífico e versátil, o escritor inglês sentia-se à vontade em praticamente qualquer gênero literário e assunto. Poeta, narrador, ensaísta, desenhista, teólogo, filósofo, jornalista, historiador, biógrafo, crítico literário, conferencista... Seus vôos poéticos iam do cômico O Vegetariano Lógico à grave e magnífica Lepanto, ambos textos de 1915.
A primeira obra de Chesterton, um conjunto de poemas e ilustrações, recebeu o título de Greybeards at Play e foi publicada em 1900. Já nela se nota o seu humor sadio e o desejo permanente de transmitir o gozo pela realidade das coisas, pelo simples fato de as coisas serem. “No espanto há um elemento positivo de prece”, escreveu mais tarde. Chesterton foi, sim, um apaixonado pelo universo, entendido aqui, é claro, não num sentido panteísta. Deleitava-se nas coisas porque sabia perfeitamente bem que elas não precisavam existir: “cada homem na rua é um grande poderia-não-ter-sido”.
Durante a Guerra dos Boers (1899-1902) na África do Sul, Chesterton escrevia artigos no semanário liberal The Speaker contra a Guerra, que considerava injusta e imperialista. Nessa época travou estreita amizade com Hilaire Belloc, deputado na Câmara dos Comuns, que também se opunha à investida militar. Belloc e Chesterton se tornaram tão próximos que Bernard Shaw chegou a falar num certo “monstro biforme Chesterbelloc”. Os dois amigos desenvolveram juntos a teoria do Distributismo (ou Distribucionismo), teoria política critica do capitalismo e do socialismo.
No ensaio Eugenia e outros males (1922), Chesterton atacava o que em seu tempo parecia ser uma das idéias mais progressivas, a idéia de que a raça humana poderia e deveria dar origem a uma versão superior de si mesma. Temos aí um exemplo de sua análise lúcida e profética dos acontecimentos que desembocariam no nazismo.
Chesterton discutiu com alguns dos mais célebres intelectuais de seu tempo: George Bernard Shaw, Herbert George Wells, Bertrand Russell, Clarence Darrow. Atraía multidões aos debates e quase sempre saía como vencedor. E mais: se sabia enfrentar com valentia os adversários, no trato pessoal nunca deixava o cavalheirismo e a delicadeza de lado. Combatia o pecado, não o pecador. E por isso amava os inimigos. Tanto assim que todos os seus oponentes o tratavam com o máximo respeito e estima; Shaw, por exemplo, chegou a dizer: "O mundo não agradeceu o suficiente a Chesterton".
Esta influência continuou depois de sua morte. Clive Staples Lewis, ao se aproximar do cristianismo, escreveu: “Chesterton tem mais razão que todos os outros modernos juntos”. Chesterton também influenciou a conversão de Evelyn Waugh e, indiretamente, a de Graham Greene. E Dorothy Sayers confessou que foi a Ortodoxia (1908) que lhe revigorou e salvou a fé na juventude, o mesmo sucedendo a Ronald Knox. E – podemos nos perguntar – quantos cristãos anônimos não deverão à leitura de Chesterton a descoberta, ou redescoberta, daquela “beleza tão antiga e tão nova” de que fala Santo Agostinho ao se referir à fé católica?
Chesterton foi um grande homem, também, porque sabia rir-se de tudo e de todos, a começar de si mesmo: num desenho intitulado “Como eu sou”, vemo-lo muito gordo (como de fato era), desajeitado, cabelos desgrenhados; num outro, “Como eu gostaria de ser”, encontramo-lo de perfil, barba desenhada, porte nobre. Saber rir-se de si mesmo, afinal, é uma das marcas da verdadeira humildade.
Defendia o matrimônio e a família, o homem comum, o bom senso, a beleza e a Igreja. Desconfiava da concentração de poder e da abundância material. Era otimista, mas não tolo. Tinha uma visão alegre da existência e gostava da polêmica e dos paradoxos.
Sobre esse último ponto, aliás, vale ressaltar que Chesterton recorria constantemente aos paradoxos não como um garoto em busca de auto-afirmação, mas com a intenção consciente de apresentar a realidade tal como ela é. De acordo com Gustavo Corção, “Chesterton não procurou nos seus tão admirados paradoxos fazer acrobacias verbais, e muito menos procurou jogos para agradar os jovens e os imaturos. Pascal, com seu timbre de abismos, não é mais trágico nem mais sério do que Gilbert Keith Chesterton”.
Na obra Heretics (1905), atacou com fino humor e lógica impecável o subjetivismo ético de George Moore, o socialismo desumanizador de Bernard Shaw, o imperialismo de Rudyard Kipling, o historicismo naturalista de Herbert George Wells, o esteticismo aético de Oscar Wilde. Chesterton explicava ali por que não era ele próprio um seguidor das filosofias da moda: não as seguia porque as compreendia, via a desordem sobre a qual estavam fundadas. O escritor inglês, afinal, sempre soube enxergar as contradições de seus contemporâneos; foram eles, com suas inúmeras contradições, e não os cristãos, que o empurraram para a fé cristã.
Ortodoxia (1908), uma de suas obras-primas, pode ser vista como um resumo da filosofia de Chesterton. O resumo daquilo em que acreditava e que um dia percebeu, não sem espanto, coincidir com o credo cristão. O livro foi escrito como resposta a um crítico de Heretics, que cobrava de Chesterton a exposição de sua própria visão de mundo. Dizia o crítico que atacar e destruir todo o mundo era fácil; difícil mesmo era construir uma visão sólida e coerente da realidade. Então Chesterton, “sempre disposto a escrever um livro à menor provocação”, escreveu Ortodoxia, em que tentava demonstrar, entre outras coisas, que (1) o racionalismo levado às últimas conseqüências conduz ao suicídio do pensamento; (2) a tradição tem um caráter democrático (dar o direito de voto aos nossos antepassados); (3) a teoria da felicidade condicional, ou “ética do país das fadas”, é a mais sadia: tudo é permitido, em troca de uma pequena coisa que é negada e (4) a doutrina cristã traz um acerto paradoxal (o ponto de equilíbrio entre virtudes contrárias).
Sobre o segundo ponto, o caráter democrático da tradição, isto é, a transmissão da cultura, do legado grego, romano e judaico e do legado da Europa nos últimos dois mil anos, vale dizer que, num mundo de devastação cultural como o atual, essa herança espiritual corre grande perigo. Tratava-se, para Chesterton, de uma tradição sagrada, que salvaguarda as verdades eternas, que falam com autoridade para cada nova geração. A mais alta função da arte, portanto, é expressar os fatores comuns mais elevados da vida humana e não os seus denominadores comuns inferiores – os amores da vida e não suas luxúrias. É nesse sentido que devemos entender a literatura de Chesterton.
Ao contrário da austeridade que a princípio o título pode sugerir, Ortodoxia significa nada mais, nada menos que “a opinião certa”. Quer dizer que há uma opinião certa e outra errada sobre o que somos nós e o mundo onde vivemos, e que a diferença entre as duas importa fundamentalmente no modo como vivemos. Embora não seja uma autobiografia, é uma obra bastante autobiográfica. Embora Chesterton não fosse católico quando a escreveu, Ortodoxia é provavelmente um dos melhores livros católicos escritos no século XX.
A filosofia de Chesterton ali exposta lhe dava liberdade para aceitar ou rejeitar os milagres com base nas evidências. Já o filósofo determinista estava obrigado, por princípio, a rejeitar todos os milagres sem sequer examiná-los. Logo, Chesterton, o ortodoxo, era mais livre que o filósofo determinista, escravo de seus postulados e preconceitos.
Naturalmente, com a fama literária, chegaram convites para conferências nos mais distantes pontos da Inglaterra e a aquisição de novos e importantes amigos: Joseph Conrad, Henry James, Baden Powell, Winston Churchill e Thomas Hardy, para citar apenas alguns.
Suas inquietações espirituais se canalizaram em certo momento para o espiritismo. Nessa mesma época conheceu Frances Blogg, sua futura esposa. Ele, idealista e distraído; ela, prática e de fortes convicções religiosas, anglicana praticante. Enquanto Frances era ordenada, metódica, comedida e pontual, o marido era o típico gênio distraído, pródigo, desleixado com a aparência pessoal e sem ter idéia do tempo. Shaw o definiu como um “querubim gigantesco”: um menino disfarçado de adulto, com sua cara gorda e redonda e sua expressão infantil. Duas anedotas ilustram bem esse aspecto da personalidade de Chesterton: Um dia sua esposa recebeu um telefonema do marido, que se encontrava numa estação de trem: "Estou em Harborough Market. Onde deveria estar agora?" Noutra ocasião, distraído como sempre, Chesterton pediu um café à senhorita que trabalhava no guichê de... uma estação ferroviária.
Embora apreciasse muito a companhia de crianças, Chesterton não teve filhos porque sua esposa não os pôde ter, mas em compensação teve uma excelente secretária, a Sra. Dorothy Collins, que foi como uma filha adotiva para o casal. Por fim, ela acabou se tornando administradora do legado literário do patrão, levando adiante a publicação de suas obras após a morte.
Apesar da distração, a capacidade do “apóstolo do senso comum” para o trabalho era impressionante: Chesterton escreveu uma centena de livros, contribuições para outros duzentos, centenas de poemas (entre os quais um épico), cinco peças de teatro, cinco romances e uns duzentos contos, incluindo a popular série de contos policiais do Padre Brown, que foi inclusive adaptada para televisão. Escreveu mais de 4000 artigos, entre os quais trinta anos de colunas semanais para o Illustrated London News e treze anos de colunas semanais para o Daily News, além dos textos diversos que redigiu para o seu próprio jornal, G.K.’s Weekly.
Foi esse alegre homenzarrão inglês quem escreveu um romance intitulado O Napoleão de Nothing Hill (1904), que inspiraria Michael Collins a liderar o movimento pela independência da Irlanda, e também um artigo no Illustrated London News que inspiraria Mohandas Gandhi a liderar o movimento que pôs fim ao domínio colonial inglês na Índia. É O Napoleão de Notting Hill, aliás, considerada por muitos como a melhor novela escrita por qualquer um dos grandes escritores de ficção ingleses.
Em 1911 começou a sua aproximação mais séria ao catolicismo. Foi nesse período que o escritor inglês conheceu o Padre John O'Connor, que lhe inspirou a criação de um dos personagens mais conhecidos da literatura policial inglesa: o Padre Brown. O clérigo “baixinho, de rosto afável e expressão de duende”, como o definiu seu criador, dá conta de resolver todos os casos, não apoiado na lógica mais rigorosa e no método científico, mas partindo simplesmente da sua experiência, do senso-comum, do conhecimento da natureza humana. O padre detetive assim se expressa numa de suas histórias: “O criminalista olha para o criminoso como um ser estranho e abjeto; eu o vejo como a mim mesmo, capaz de cometer qualquer barbaridade: daí que me pergunto como faria o que ele fez.”. As histórias do Pe. Brown, embora muito divertidas, não são apenas entretenimento, porque a habilidade do detetive para solucionar crimes está baseada no seu conhecimento profundo da natureza humana, adquirido no dia-a-dia do confessionário.
Do contato com o Pe. O'Connor nasceu o desejo de Chesterton de se fazer católico, ele era então anglicano. Nesse processo foi fundamental também a ajuda de seus amigos Maurice Baring e o Pe. Ronald Knox. Numa carta ao amigo Belloc, Chesterton mais tarde assim se expressava: “A Igreja Católica é o lar natural do espírito humano. A estranha perspectiva da vida, que ao princípio parece um quebra-cabeça sem sentido, tomada sob esse ponto de vista, adquire ordem e sentido”. Seu processo de conversão, no entanto, foi lento.
O homem que tanto podia debater seriamente com pensadores do porte de um Bertrand Russell quanto se divertir com crianças numa festinha de aniversário, entrou na Igreja Católica em 1922. Sua conversão foi então um dos mais comentados eventos religiosos na Europa desde a conversão do cardeal John Henry Newman, ocorrida 75 anos antes. Mais tarde, também sua esposa Frances se converteria ao catolicismo.
Na sua Autobiografia (1936), afirmava que a teologia católica é “a única não só que pensou, mas que pensou sobre tudo. Que quase todas as demais teologias ou filosofias contêm alguma verdade, não o nego; ao contrário, é isso o que afirmo, e é disso que me queixo. Sei que todos os demais sistemas ou seitas se contentam com seguir uma verdade, teológica ou teosófica, ética ou metafísica; e, quanto mais reclamam-se universais, mais isso significa que colhem algo e o aplicam a tudo”. Só a teologia católica era, e é, universal.
Quando lhe perguntaram por que afinal se converteu ao catolicismo, Chesterton respondeu: “Porque eu queria me livrar dos meus pecados.” E arrematou: “A Igreja Católica é a única que realmente apaga os pecados.” Ecoando a história de Santo Tomás e a velhinha, Chesterton confessava na Autobiografia que o catecismo lhe ensinou tudo o que a ciência, a filosofia pagã e o mundo não sabem. Ensinou-lhe o óbvio: que o orgulho e o desespero são pecados e que o único remédio para eles é estar no mundo com humildade. Só a aceitação de grandes mistérios, concluía Chesterton, depois de estudar inúmeras filosofias e aderir a diversos “ismos”, é capaz de manter a lucidez do espírito humano; sua negação conduz invariavelmente à loucura: “Aceitar todas as coisas é um exercício, mas compreender todas as coisas é um frenesi.” E mais adiante, comparando o lunático com o poeta (que sería uma pessoa sã), escreveu: “O poeta procura apenas a exaltação e a expansão, isto é, procura um mundo onde se possa distender. Pretende ele, simplesmente, enfiar a cabeça nos céus, ao passo que o lógico se esforça por enfiar os céus na cabeça. E é a cabeça que estala.”
Uma das vantagens da conversão é sabermos a quem devemos agradecer a alegria de existir; é, melhor dizendo, termos a quem agradecer. “O teste de toda felicidade é a gratidão; e eu me sentia grato, embora mal pudesse saber a quem”. Eis a maneira de Chesterton expressar sua realização: afinal, o bem é realmente bem, o belo é realmente belo, o verdadeiro é realmente verdadeiro. Estava em casa, por fim.
Toda a obra de Chesterton é como que um hino à alegria. É alegre e arriscado viver. A existência do livre-arbítrio, contrariando o determinismo, torna a vida perigosa e excitante: a partir daí todas as nossas escolhas são infinitamente sérias e potencialmente perigosas.
Depois de Heretics e Ortodoxia, outra obra-prima foi escrita no fim de sua vida: a biografia Santo Tomás de Aquino (1933), cujo valor foi atestado por Étienne Gilson, famoso filósofo tomista, que a considerou “o melhor livro jamais escrito sobre Santo Tomás.”
Mais afastado da imprensa, o “querubim gigantesco” dedicou os anos de 1923 e 1924 para redigir, com a tranqüilidade que lhe convinha, aquela que seria considerada por muitos a sua melhor obra: O Homem Eterno (1925), em que expunha a sua filosofia da História, tendo como eixo o mistério de Deus encarnado. Esse livro foi crucial para a conversão de Lewis, que acabou por se tornar também um dos apologistas cristãos mais importantes do século passado.
Em suma: em todas as suas obras é patente o entusiasmo do escritor pela realidade, pelo que é. Chesterton era o grande inimigo do racionalismo idealista e cético. É notável em seus escritos a atitude profundamente humilde do espectador que se maravilha diante do quadro à sua frente: a realidade da Criação.
Chesterton guardou a fé até o último instante, recebendo a extrema-unção de seu amado Padre O’Connor. Faleceu em 14 de junho de 1936, aos 62 anos, em Beaconsfield, Buckinghamshire. O Papa Pio XI, em telegrama ao povo da Inglaterra, escreveu: “Santo Padre profundamente consternado morte de Gilbert Keith Chesterton, devoto filho Santa Igreja, dotado defensor da Fé Católica”.
Os escritos do criador do Pe. Brown foram saudados por Ernest Hemingway, Graham Greene, Evelyn Waugh, Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Marquez, Karel Capek, Marshall McLuhan, Paul Claudel, Dorothy Leigh Sayers, Agatha Christie, Sigrid Undset, Ronald Knox, Kingsley Amis, Wystan Hugh Auden, Anthony Burgess, Ernst Friedrich Schumacher, Orson Welles e até Neil Gaiman. Para não falarmos no nosso grande Gustavo Corção. Segundo Thomas Stearns Eliot, Chesterton “merece o direito perpétuo à nossa lealdade”.
A respeito da missão de Chesterton, o Padre Leonardo Castellani ressalta que ela consiste em “rir, fantasiar, disputar, atirar-se no pasto e andar de pernas para o ar, cantar as verdades mais gordas à tesa Inglaterra, denegrir copiosamente os políticos, banqueiros, cientistas e literatos, escarnecer os inimigos e crer na Igreja Católica Romana; mas a graça está em que isto último é o que dá poder ao primeiro”.
Já em A abolição do homem, Clive Staples Lewis assinala: “Até agora, os planos educativos conseguiram pouco do que pretendiam e, de fato, quando os relemos – vendo como Platão faria de cada criança ‘um bastardo criado em uma repartição pública’, e como Elyot desejava que a criança não visse homem nenhum até os sete anos e, completada essa idade, não visse nenhuma mulher, e como Locke queria os meninos de sapatos esfarrapados e sem aptidão para a poesia –, podemos agradecer a benéfica teimosia das verdadeiras mães, das verdadeiras amas e (sobretudo) das verdadeiras crianças por preservar a sanidade que a raça humana ainda possui.” Os grifos são nossos.
Sem hesitar incluímos o “querubim gigantesco” entre as “verdadeiras crianças”, aproveitando para lhe agradecer a benéfica lucidez que pode preservar a sanidade da raça humana – ou, ao menos, de alguns representantes da raça. Chesterton nos ensina, como ensinou a vários grandes homens, e também a muitos pequenos cristãos, anônimos, a ver o cristianismo com novas lentes. Assim como os antigos monges costumavam recomendar a leitura dos Salmos para curar a tristeza ou a acídia, também não podemos deixar de recomendar, contra uma visão cinzenta e sem graça do cristianismo, a leitura desse grande médico de almas que foi Gilbert Keith Chesterton.
Nota biográfica preparada por Davi James Dias, membro do Nuec,
Belo Horizonte, Maio de 2009
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