domingo, 21 de junho de 2009

Nos antípodas do cristianismo...

O homem é bom por natureza. O homem é livre. Que significa isto? Significa que é autônomo; significa que é a lei de si próprio, que a vontade não está sujeita a leis externas (heteronomia); move-se por impulsos interiores, e, quando se move por impulso interior, move-se bem e afirma assim a sua liberdade. [...] Este dogma é a pedra angular de todo o edifício metafísico e político de [Jean-Jacques] Rousseau.

O probema do homem está todo aqui: conservar quanto possível, incorrupta – isto é, quanto possível, desvinculada de qualquer lei externa – esta liberdade. Pode dizer-se: o fim do homem está na sua expansão livre, sem controle externo, da sua pessoa.

Terríveis conseqüências as destes postulados! Estamos exatamente nos antípodas do cristianismo. O homem é livre – esta proposição é verdadeira, compreende-se até para o cristianismo – mas o Homem está também manchado pela culpa. Portanto, não bastam a lei interior e o impulso interior da consciência para dar à liberdade uma orientação verídica, para dirigir para o bem os instintos e as paixões; é preciso uma lei externa que sirva de controle e de guia à consciência; é preciso, sobretudo, a graça reparadora de Deus que permite à vontade alcançar o bem!

Duas liberdades, portanto, radicalmente distintas: uma, a de Rousseau, dissociada da graça e da lei; outra, a cristã, integrada na graça e na lei. E estes dois tipos de liberdade têm reflexos de incalculável alcance no corpo social.

Da liberdade de Rousseau derivam – embora sem subavaliar certos elementos preciosos sobre o tema do homem – os males piores de que sofrem a civilização e a sociedade do nosso tempo; a "liberdade" econômica – isto é, a economia subtraída ao controle e direção da ética – produziu a cisão social entre capitalismo e proletariado; a "liberdade" política – isto é, a liberdade subtraída ao controle e direção da ética – produziu, internamente, a tirania da maioria e a desarticulação do corpo social (porque despedaçou a sua organicidade); a própria liberdade política produziu, na vida internacional, a desagregação da unidade das nações; a liberdade individualista produziu o enfrentamento do vínculo familiar e das normas fundamentais da ética cristã.

Em suma, se subtrairmos a liberdade à lei e à graça, teremos como resultado aquilo que acontece em física quando um corpo é subtraído à lei da gravitação: a fora centrífuga não contrabalançada pela centrípeta, produz efeitos terríveis! Um astro que já não é capaz de se mover na sua órbita.

GIORGIO LA PIRA, Per un'architettura cristiana dello Stato, Florencia, 1954.
Tradução de Vasco de Sousa.

Sem comentários: