O jornalista e doutor em literatura René Lejeune apresenta um breve diálogo fictício dele próprio com Pirro (365-275), pai do ceticismo. O grego questiona qualquer possibilidade de um comportamento ético na política, enquanto o francês vai além da afirmação ética, defendendo que se pode ser santo ao viver a política como vocação inspirada por uma profunda fé cristã. Lejeune fala de primeira mão, pois foi colaborador de Robert Schuman de 1945 até 1958.
PIRRO: Ousa falar de “santidade na política”! Acaso este não é um terreno por excelência de intriga, manobras, especulações e de confusão? Não é um auto-serviço de ambições pessoais tão devoradoras? “Santidade na política”: expressão quimérica e aberrante. Estes dois termos são inconciliáveis.
RENÉ LEJEUNE: Confesso que há poucas luzes neste espaço tenebroso. Lugar onde os choques de interesses se atropelam: interesses privados e públicos, profissionais e corporativistas, nacionais e internacionais... No entanto, apesar de tudo isso, o que é no fundo a política? Não é a organização do bem comum, com o propósito de realizar cada vez mais a solidariedade e a justiça no seio de uma comunidade nacional, regional ou local? Não é uma coisa santa, no sentido em que a Bíblia, Palavra de Deus, fala de “lugar santo”, “assembléia”, “aliança santa”?
PIRRO: Puro idealismo e visão perigosa! Confunde você um princípio abstrato, uma ideologia, suavidade de natureza religiosa, com a realidade inelutável, os fatos concretos e tangíveis, projeção da natureza humana em que o instinto se impõe a razão.
RENÉ LEJEUNE: Tenho em conta as cargas da realidade e do aparente determinismo da natureza humana. Não obstante, se você olhar objetiva e globalmente sobre nossa sociedade, não tem havido enormes progressos, graças à solidariedade e justiça ao longo do século XX especialmente, apesar das terríveis recaídas nas barbáries? Esses avanços não são uns dos vários frutos da política?
PIRRO: É certo. Mas a que preço! Mantenho que a política é um campo de manobras de leões e raposas. Maquiavel é seu dono, e não Gandhi. Maomé é seu motor, e não o evangelho. Se bem que é verdade que na política produz alguns frutos. Faço o desafio de que me fale de um de seus atores que tenha praticado de tal maneira que, sem caricatura e fábulas, se pode falar de “santidade na política”.
RENÉ LEJEUNE: Desafio aceito! Há um homem de Estado Francês cuja vida e ação política é uma boa ilustração. Que contribuiu de maneira determinante a orientar uma época complicada da história. O ato político que aceitou com audácia em 9 de maio de 1950 se abre às nações, no horizonte do terceiro milênio depois de Jesus Cristo, perspectivas novas de coexistência pacífica e de estreita cooperação. Seu nome: Robert Schuman...
PIRRO: Ousa falar de “santidade na política”! Acaso este não é um terreno por excelência de intriga, manobras, especulações e de confusão? Não é um auto-serviço de ambições pessoais tão devoradoras? “Santidade na política”: expressão quimérica e aberrante. Estes dois termos são inconciliáveis.
RENÉ LEJEUNE: Confesso que há poucas luzes neste espaço tenebroso. Lugar onde os choques de interesses se atropelam: interesses privados e públicos, profissionais e corporativistas, nacionais e internacionais... No entanto, apesar de tudo isso, o que é no fundo a política? Não é a organização do bem comum, com o propósito de realizar cada vez mais a solidariedade e a justiça no seio de uma comunidade nacional, regional ou local? Não é uma coisa santa, no sentido em que a Bíblia, Palavra de Deus, fala de “lugar santo”, “assembléia”, “aliança santa”?
PIRRO: Puro idealismo e visão perigosa! Confunde você um princípio abstrato, uma ideologia, suavidade de natureza religiosa, com a realidade inelutável, os fatos concretos e tangíveis, projeção da natureza humana em que o instinto se impõe a razão.
RENÉ LEJEUNE: Tenho em conta as cargas da realidade e do aparente determinismo da natureza humana. Não obstante, se você olhar objetiva e globalmente sobre nossa sociedade, não tem havido enormes progressos, graças à solidariedade e justiça ao longo do século XX especialmente, apesar das terríveis recaídas nas barbáries? Esses avanços não são uns dos vários frutos da política?
PIRRO: É certo. Mas a que preço! Mantenho que a política é um campo de manobras de leões e raposas. Maquiavel é seu dono, e não Gandhi. Maomé é seu motor, e não o evangelho. Se bem que é verdade que na política produz alguns frutos. Faço o desafio de que me fale de um de seus atores que tenha praticado de tal maneira que, sem caricatura e fábulas, se pode falar de “santidade na política”.
RENÉ LEJEUNE: Desafio aceito! Há um homem de Estado Francês cuja vida e ação política é uma boa ilustração. Que contribuiu de maneira determinante a orientar uma época complicada da história. O ato político que aceitou com audácia em 9 de maio de 1950 se abre às nações, no horizonte do terceiro milênio depois de Jesus Cristo, perspectivas novas de coexistência pacífica e de estreita cooperação. Seu nome: Robert Schuman...
RENÉ LEJEUNE, Robert Schuman: Pere de l'Europe, París, 2000
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