domingo, 12 de outubro de 2008

Aconteceu algo que não tinha acontecido nunca...


No Princípio DEUS criou o mundo.
[...] E quando houve homens
de múltiplas maneiras, atormentados,
procuraram encaminhar-se para DEUS
Cegamente e em vão, porque o homem é uma coisa vã,
e o homem sem DEUS é semente arrastada pelo vento:
levada em mil sentidos, sem encontrar lugar para pousar e germinar.
Iam atrás da luz e atrás das sombras,
e a luz impelia-os para a luz e as sombras conduziam-nos às trevas,
adorando serpentes ou árvores,
adorando demônios em vez de nada:
conclamando para uma vida além da vida,
por um êxtases não vindo da carne.
Estéril e vazío. Estéril e vazío.
E a treva por cima das profundezas.

[...] E o Espírito pairava sobre as águas,
e os homens que se volviam à luz, e eram conhecidos pela luz,
inverataram as Religiões Superiores;
e as Religioes Superiores eram boas
e levaram aos homens da luz à luz,
ao conhecimento do Bem e do Mal.
Porem, sua luz estava sempre cercada
e traspassada pelas trevas
como o ar dos mares mornos
esta penetrado pelo calmo bafo morto da Corrente do Ártico;
E quedaram-se em ponto morto,
ponto morto animado por um vislumbre de vida,
[...] Estéril e vazío. Estéril e vazío.
E a treva à face do abismo.

Então adveio, em um momento predeterminado,
um momento no tempo e do tempo,
Um momento não fora do tempo, mas no tempo,
naquilo que chamamos história:
cortando, cindindo a esfera do tempo,
um momento no tempo porém não como um momento do tempo,
Um momento no tempo, porém o tempo se fez mediante este momento
pois sem significado não há tempo,
e este momento do tempo deu-lhe o significado.

Então pareceu como se os homens foram avançar
da luz à luz, na luz do Verbo,
através da Paixão e do Sacrifício
salvados a despeito da natureza negativa
que o ser de cada qual continha;
bestiais como sempre, carnais, buscando-se a si mesmos como sempre,
egoístas e cegos como sempre,
E ainda assim, sempre lutando, sempre reafirmando-se,
sempre recomeçando a marcha pelo caminho que fora iluminado pela luz;
Freqüentemente detendo-se, vagando, perdendo-se, retardando-se,
voltando, mas jamais seguindo outro caminho.

Porém parece que aconteceu algo que não tinha acontecido nunca:
ainda não sabemos bem quando, nem por que,
nem como, nem onde.
Os homens deixaram a DEUS não por outros deuses,
dizem, senão por nenhum deus,
e isso nunca havia ocorrido, nunca
Que os homens simultaneamente negassem aos deuses
e adorassem a deuses, professando primeiro a Razão,
e logo o Dinheiro, e o Poder, e o que chamam Vida, ou Raça, ou Dialética.
A Igreja rejeitada, a torre derrubada, os sinos tirados,
o que temos que fazer, estar parados com as mãos vazias
e as palmas para cima em uma idade que avança progressivamente para atrás?

[...] Oh Pai damos a benvinda as tuas palavras
e cobraremos valor para o futuro
lembrando o pasado...
[...] Lembrai-vos da fé...
Nossa época é uma época de virtude moderada
e de vício moderado,
na qual os homens não deixam a Cruz
pois nunca a querem abraçar.
Mas nada é impossivel, nada,
para os homens de fé e convicção...
Oh DEUS, ajudai-nos.

THOMAS STEARNS ELIOT, Os Coros de "A Rocha", VII e VIII, Londres, 1934.

Sem comentários: