terça-feira, 14 de abril de 2009

O ápice da revelação do Amor

Hoje revivemos a trágica vicissitude de um Homem único na história de todos os tempos, que mudou o mundo, não matando os outros, mas deixando-Se matar pregado numa cruz. Este Homem, aparentemente um de nós e no entanto perdoa aos seus algozes que o matavam, é o "Filho de Deus", que – como nos recorda o apóstolo Paulo – "não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo (…), humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz" (Fil 2, 6-8).

A dolorosa paixão do Senhor Jesus não pode deixar de mover à piedade mesmo os corações mais duros, porque constitui o ápice da revelação do amor de Deus por cada um de nós. Observa São João: "Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele acredita não pereça mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 16). É por nosso amor que Cristo morre na cruz. No decurso dos milênios, falanges de homens e mulheres deixaram-se fascinar por este mistério e seguiram a Jesus, fazendo da própria vida por sua vez, como Ele e graças ao seu auxílio, um dom para os irmãos. São os santos e os mártires, muitos dos quais nos são desconhecidos. Mesmo neste nosso tempo, quantas pessoas, no silêncio da sua vida diária, unem os seus sofrimentos aos do Crucificado, tornando-se apóstolos de uma autêntica renovação espiritual e social! O que seria do homem sem Cristo? Observa Santo Agostinho: "Ficarias sempre num estado de miséria, se Ele não tivesse usado de misericórdia contigo. Não terias voltado a viver, se Ele não tivesse partilhado a tua morte. Terias desfalecido, se Ele não tivesse vindo em teu auxílio. Ter-te-ias perdido, se Ele não tivesse chegado" (Discurso 185, 1). Então porque não acolhê-Lo na nossa vida?

Nesta noite, detenhamo-nos a contemplar o seu rosto desfigurado: é o rosto do Homem das dores, que assumiu todas as nossas angústias mortais. O seu rosto reflete-se no de cada pessoa humilhada e ofendida, doente e atribulada, só, abandonada e desprezada. Derramando o seu sangue, resgatou-nos da escravidão da morte, quebrou a solidão das nossas lágrimas, entrou em cada uma das nossas penas e aflições.

S.S. BENTO XVI, Palatino, Roma, 10 de abril de 2009.
Palavras de saudação na Via Sacra de Sexta-feira Santa.

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